Tons

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Esculpir de um tom de azul
Uma melodia grandiosa e
Sempre-renovada, e ao sul
De lugar nenhum, encontrar
Meu lugar, teu pensar, ao luar
E no castanho de teus fios
De cabelo, dançar, voar.
Fundir-se num vórtice
De puro ser, entoando
A melodia da minha morte
Mas morte minha no ato de doar
E renascer virgem no ser-com
Mas se aquele azul retornar
Melancólico, que mudemos o tom!

A Barba de Platão

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Nas fendas de teu eloquente silêncio,
Reifico. Ainda que vazio em tua essência,
Vacilo, crio margens a um sim-dito.
Preso entre códigos isolados
E a Vontade de Verdade, rogo pragas
À minha habilidade de distorcer
O fio da realidade,
De ver nos cacos de vidro
Algum vislumbre de unidade,
Enquanto há tão-somente
A simplória hipercomplexidade
De que no ser-não do teu amor
Seu avesso é a verdade.

Srta. Wayne

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Não me leve a mal
Se quero mais do teu amor banal.
Visceral e doente, fonte de dor
E de efeito entorpecente.
À métrica de tua loucura
Evoco minha sanidade caótica.
E, através dessa ótica,
Já não sei se sou são ou demente.
Mas se, em meditado pensamento
Ou na agonia silvestre que brota daninha,
Mendigo por teu beijo ardente
Pelos teus três centavos de coração
Não é por que eu sou um doente
Ou no amor, inexperiente.
É que a vida se configura de óbitos
E tu me matas diariamente.

Haecceitas

terça-feira, 29 de abril de 2014

O teu beijo amargo se chama
Vinho, que inscreve rubro no paladar
Sentenças de um livro profano
Promessas nunca pronunciadas
De salvação, e ameaças ocultas
De um sofrer perene.
Mas se, em tua embriaguez,
Decidistes em mim pôr fim
Antes é mister que saibas:
É no teu abandono que
Encontro a mim mesmo
Em tua negação renasço
Em tua negação me afirmo
Eterno parir-se a si mesmo
E na tua apatia me torno
Cognoscível, enquanto criatura
Que sofre, mas delira de prazer.

Lokayata

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Os vivos, de que servem seus
Conselhos? Morrerás, certamente,
Para quê desespero?

Bebe teu vinho!
Espezinha tu'alma
Ignorante dos vícios.

Deixai que a embriaguez,
Acentuada, vingue tua amargura
Endêmica, que te engolfa
No instante do teu nascer.

Assassina teu ser!
É na morte da alma
Que subjaz o prazer.

Thaumiel

segunda-feira, 24 de março de 2014

As múltiplas expressões vazias
Do meu ser me nadificam,
Ser demais é ser coisa nenhuma.
Deixo o conhecimento sagrado
Aos sábios, e o destino
Àqueles letrados nos astros.
Apenas vago à deriva
À procura de vinho, minha redenção.
Morte desse ser-múltiplo,
Amorfo, morte desse ser-não.
E quando teus fios vermelhos
Dançarem à sombra de minha visão
Obrigando meu cerne a ser
Pura atenção, lembra-te que a morte
Desse ser-instante não porá fim
À minha maldição
Nem à negação de mim mesmo,
Agregado de podridão,
Tendo em vista que tudo que é podre
Há de te (re)desenhar em nulidade
E revelar a dor de ser-não
De ser o que ainda não é.
As múltiplas expressões vazias
Do meu ser me nadificam
Ser demais é ser coisa nenhuma
É ser contradição.

Cidade da Dor II

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A sinfonia de concreto anuncia
Os limites há muito ultrapassados
De uma sanidade que não vê
A luz do dia, oculta entre nuvens
Carregadas de solidão e nulidade

E cobrindo a cicatriz horrenda
Com máscaras e fantasias
De sobriedade, teu caminho ilude-anda
Deformado pela visão turva
E carne podre do teu coração maculado

Tua mente engolida pela névoa
Que esconde e revela o teu pecado
Fuja da culpa que te assassina
Da solidão que te abomina
E da certeza de estar
Sempre no lugar errado.